No seu rosto pálido, os lábios mantinham-se fechados durante todo o dia que ia passando vagarosamente. O seu corpo imóvel passava despercebido por quem ali passava e na sua mente havia sofrimento, havia dor e muita tristeza. A dor de uma extrema ausência de carinho era bem maior que a doença que a levara aquela cama de hospital e ela via o exterior através de uma pequena janela situada do seu lado esquerdo. As únicas pessoas que iam á sua beira eram as enfermeiras e, embora tivesse em si a perfeita consciência que só lá iam por obrigação do ofício tentava nem se quer pensar nisso. Considerava-se inútil e foram várias as vezes que desejou poder fechar os olhos e fazer a coisa que a fazia mais feliz, sonhar! Refugiava-se assim numa ilusão de poder voar, de ser livre e ter uma vida normal… Estava sozinha e apesar de ser inconformada não o transparecia, ficava serena, fechando e abrindo os seus olhos que à muito perderam o brilho e onde o verde que antes era vivo se desvaneceu. E ficou assim durante muito tempo até ao dia em que não aguentou mais. A sua idade avançada tirou-lhe a força para lutar e o sentimento de frustração que permanecia no seu coração tirou-lhe a vontade de viver. O lindo olhar já apagado pelas marcas da solidão, foi-lhe tirado muito tempo antes de o poder mostrar a todas as pessoas que o mereciam ver e, nem oportunidade teve para abrir a sua alma bondosa que muitos ensinamentos tinha para dar. No dia em que aconteceu aquilo que mais queria, muitas lágrimas correram em vão. Todas aquelas pessoas que choraram a sua morte, deviam era ter chorado pela angústia de nunca terem tido a maravilhosa oportunidade de ver aqueles grandes olhos, cheios de sonhos, cheios de bondade e aquele sorriso meigo que faziam crer que era um anjo a sorrir. Foi assim, num eterno sonhar voar até onde, ninguém sabe mas, certamente está feliz!
"De que vale um olhar sem ver?"
Catarina
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