Camiões, carros, espadas mágicas e o super homem

O Ivo tem 8 anos e é uma doçura. Aqueles enormes olhos cor de avelã fazem-me crer que ainda não perdeu uma pitada da inocência que toda a gente julga já não ter. Todos se enganam porque simplesmente ninguém se importa. É claro que é diferente, não porque ele quer mas porque toda a história dramática que viveu até agora o faz ser assim. A carência de afectos sobrepõe-se a qualquer outra necessidade pedagógica que precisa. É um ser humano muito especial por quem sinto uma grande admiração, por tudo o que passa e também pelo que já passou. Sei que histórias destas tão trágicas é ao pontapé por esse mundo fora mas por conviver tão de perto com esta dura realidade faz o meu coração partir em mil pedaços. Tanto queria dar-lhe um banho quentinho, vestir-lhe uma roupa lavadinha e aconchega-lo com um beijinho de boa noite, que é coisa que não tem e que tanto precisa. O difícil é conseguir separar-me dele que tanta alegria me traz durante um dia por semana. Só de pensar que a próxima vez vai ser a última faz-me ficar doente da alma. O que vai ser dele? Será que vai conseguir? O estágio está sem dúvida a mudar a minha forma de pensar. Se antes gostava de ir dar aulas para o grande Porto, para os grandes colégios, agora só quero ir para as escolas com mais carência onde possa distribuir o meu amor que facilmente é multiplicado por todos. E depois acontece como hoje em que ele se vira para mim e me pede com carinho para voltar amanhã...

Um dia gostava que soubesses, meu pequeno, que mesmo tão pequeno já és um super homem!