terça-feira, 14 de dezembro de 2010

eyes

Nunca gostei de mim. Acho-me uma pessoa relativamente normal. Morena, cabelo escuro e olhos castanhos. Uma banalidade de ser ver em qualquer canto do mundo. Nunca percebi a minha singularidade nem tão pouco a minha beleza. Hoje um velhinho, com os seus 70 anos, apareceu á minha frente e parou. Não me consigo lembrar do seu nome, apenas sei que não o conhecia. Pelo que sei está com inicios de alzheimer mas isso, pouco me incomoda. Se ele fixou nos meus olhos eu fixei nos dele. Tinha uns olhões lindos, um olhar sereno e muito sincero. Tinha uma pele branca e enrugada, uma pele parecida á da minha querida Avó. Chegou perto de mim e disse numa voz baixinha, "Parabéns". Não percebi a que se deviam aqueles parabéns mas agradeci-os. Com o olhar fixo no meu continuou dizendo, "Tens uns olhos belos. Tão bela deve ser a tua alma. Porque como dizem, "os olhos são o espelho da alma"... Parabéns". Senti-me tão incomodada que dificilmente o consegui encarar como ele me tinha encarado até então. Senti fortemente no meu coração aquelas lindas palavras, pois, jamais alguém me disse algo assim dos meus olhos tão banais. Para cortar aquela tensão centrada naquele espaço tão pequeno a pessoa sentada ao meu lado disse, "estes olhos iluminam o escuro". De facto para o resto das pessoas deve ter aliviado mas para mim não. Entretanto ele foi embora e quando ia a passar do outro lado da janela olhou novamente para mim e disse-me adeus como quando é uma criança a dizer... Acenei da mesma maneira e ele seguiu. Apesar de ter sido estranho, foi dos momentos mais bonitos da minha vida, foi um momento verdadeiro! Aquele senhor marcou o meu dia, atrevo-me a dizer que marcou a minha vida. Realmente a beleza está nos olhos de quem observa e eu vi-a, diante de mim.

"Quantas coisas cabem num olhar! É tão expressivo, é como falar."

Catarina

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