O Manel tinha-me sido apresentado á uns tempos atrás, embora pequenote e gorducho era um doce. Aquelas bochechas davam-me vontade de enche-lo de beijinhos e apesar da minha persistência o rapaz não cedia. Começei a ver se o problema era meu e o facto era que comigo estava tudo normal. Será que tinha namorada e por isso é que não queria muitas confianças com as raparigas? No outro dia estava a passar por mim e as calças estavam mal dobradas e então perguntei se não queria que as arranjasse porque mão feminina era outra coisa... Respondeu-me agressivamente e virou-me costas... Bem, fiquei para morrer, nem me queria acreditar que tinha tido aquela atitude comigo, mas eu não desisti, deixei o meu orgulho de lado e continuei a tentar. Passado uns dias ele passou novamente por mim mas desta vez com os atacadores desapertados... Como é obvio achei a ocasião perfeita para o abordar... Tão depressa eu lhe perguntei como ele saiu da minha beira... Estava a desesperar mas com a ideia de nunca desistir. E foi ontem que a minha persistência deu frutos. O Manel anda no quinto ano e é das coisas mais fofas que eu alguma vez conheci. Como já deu para perceber é reguila e muito traquina, mas ao mesmo tempo um doce. Foi então que na minha hora de almoço ele apareceu na sala de convivio com um trabalho para fazer e eu claro, como o vi tão aflito perguntei se precisava de ajuda. Ele respondeu que sim e depois de ter percebido que o trabalho era para Formação Cívica (visto que por causa do aparelho fala á sopinha de massa) começei a ajuda-lo. A Teresinha juntou-se a mim e ficamos ali as duas, o tempo todo a ajuda-lo. A frase que conseguimos colar com letrinhas de jornal foi, "Se queres sorrir todo o dia, come fruta com alegria". Foi um trabalho de grupo, visto que a teresa cortou os quadrados para as colagens, o Manel as letrinhas de jornal e eu colei a frase e ia também ajudando o piolhinho a cortar. Quando tocou para entrar desmanchei-me a rir visto que ele pediu-nos para dizermos á professora que tinhamos perdido a mochila e ficavamos ali a ajuda-lo. No fim a Teresa foi embora, eu ajudei-o a juntar as letrinhas para ir também e antes pedi-lhe, muito a medo, um beijinho. Surpresa das surpresas foi que ele deu-me um beijinho mesmo muito querido... Ganhei o dia e o tempo perdido da hora do almoço não foi perdido visto que valeu por tudo! Consegui ou não consegui a atenção dele? Certo é que também só capto as atenções das crianças (se é que me entendem...).
"De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?" ,
Catarina
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